terça-feira, 29 de abril de 2014

Especial: Continuidade e o gênero de Supers


No começo desse blog, fizemos uma série de 3 partes tentando mostrar um pouco o mundo de Supers para RPGs. Eram elas:

 Informações gerais sobre o gênero de rpg.
 Como jogadores podem criar personagens.
 Os conflitos e recompensas de um jogo de Supers.

E enquanto são artigos ao qual me orgulho, vamos nos aprofundar um pouco mais sobre o gênero de supers. Pois há certos elementos únicos a ele, que raramente é mencionado fora do circulo de fãs mais conectados aos quadrinhos. Estou falando sobre a "continuidade". A sempre presente, nunca constante, continuidade.


Crises em Infinitas Terras
Quadrinhos são muitas vezes associados ao "retro", o "velho", a "tradição" a "valores antigos". De fato é possível fazer diversas leituras com visões particulares e encontrar idéias politicas antigas, talvez o mal uso de um tipo de personagem, as vezes o desrespeito.

Os quadrinhos de super herói sempre foram pós modernos ou ao menos inseridos em uma sociedade pós moderna, e por consequência isso era refletido de uma maneira ou outra nas histórias e seus personagens.

Mas é mais do que um mero reflexo; Talvez tenha começado como um, mas quando há um movimento consciente em fazer narrativas pós modernas com tais super seres (A modinha de "Meta Histórias", que podem ser vistas em praticamente qualquer material criado pelo o autor escocês Grant Morrison), o resultado é algo único, não encontrado normalmente em outras mídias, e quando encontrado, pode-se ver conceitos usados em quadrinhos como "Crises nas Infinitas Terras" e seu "Multiverso em collapso" até mesmo na "Crise Final", onde as páginas dos quadrinhos são nomeadas como o universo onde a história ocorre em si e como um fenômeno de física quântica, só ganha vida quando tem um observador que materializa os acontecimentos em sua frente os completando em sua mente.


É claro que tal particularidade é do universo de super heróis da DC, e varia muito de quadrinhos e quadrinhos. Mas da Image Comics a Marvel, o conceito de multiverso, e de que as histórias seguem um tempo de existência radicalmente diferente do nosso, e que é pelo contato com o leitor (E as vezes, com seus criadores) que muito da história e mitologia desses universos é criada.

Quadrinhos e arte sequencial tem certas particularidades em como o conteúdo é consumido e escrito. Em quadrinhos, é a mente do leitor e sua imaginação que pega as imagens em sequencia e as "completa". Há uma insinuação do autor, é claro. Mas os detalhes, o movimento desse mundo, é algo que vive na mente do leitor.



Nós sabemos que o batedor atinge a bola.
Mas de que maneira? Cabe a nós imaginar.

Mas e quando os heróis saem dos quadrinhos?
Como tais conceitos devem ser lidados?
Por um longo período de tempo, as adaptações do cinema ignoravam completamente a tal da "continuidade" dos quadrinhos. Filmes de super herói raramente possuíam sequencias diretas ou que respeitavam o passado cinematográfico. Até que os estúdios Marvel passaram a construir um "Universo dividido cinematográfico" e logo introduziu a fãs de cinema o assunto que iremos tratar aqui: A continuidade presente mas nunca constante.

Presente mas não constante


A morte de Super Homem
Para compreender tal elemento interessante do gênero, que nasceu pela natureza de sua mídia originária (no caso, quadrinhos) vamos nos usar de um exemplo exagerado: A morte de Super Homem, uma história da década de 90 que prometia "matar" o Super Homem em sua própria revista mensal. E o herói seria trocado por um dentre vários outros Super Homens substitutos.

Eram eles: Cyborg Superman, Steel, Superboy e Erradicador.  E mais a direita podemos ver o Doomsday

Então é claro, após esse arco terminar há outro onde Super Homem volta ao normal, volta para Metropolis vivo e isso não é nunca mais mencionado, afinal a história não mudou nada e não foi uma morte permanente do personagem. Certo?

Errado.

Personagens no universo sabem da morte do Super Homem. Todos os 5 personagens no foco da história que foram introduzidos possuem seu lugar em hqs da DC até hoje. Aquela história teve sim um impacto no multiverso DC, mas não como o final para o Super Homem.

Agora por que isso?

Quadrinhos On going são para serem lidos por arcos, Wolverine (como o da capa que abriu essa postagem) morrer vai ser um arco, e depois haverão arcos com ele morto, e dai ele volta.

É um tipo de mídia que ao mesmo tempo que possui uma continuidade forte, é uma continuidade "eterna"; Muito raramente você vê um fim para os personagens, nem mesmo quando são cancelados.
Há diversas exceções, como por exemplo os X-staticos, onde em sua ultima edição, morreram todos. E nunca mais voltaram.


Provalvelmente meu super time favorito ao lado dos Great Lake Avengers

E na hq especial onde eles "voltaram"...Era eles no inferno (e céu) da Marvel, remanescendo sobre suas glórias antigas.

Sei que é um conceito um pouco estúpido. Um personagem morrer e voltar é algo que não é perdoado em outras mídias.




Mas vamos por isso em contexto de exemplo: Wolverine existe a 40 anos, a pelo menos 20 ele tem uma HQ com o nome dele solo, ou quase solo (Por um tempo ele tinha HQ com a Kitty Pride).

É um personagem que participou da "jornada do herói" incontáveis vezes. Wolverine teve diversos começos, incontáveis meios e o mesmo número de finais.

Tentar analisar sua mídia como alguém que analisa por exemplo, um seriado, não vai fechar a conta; Vai ter algo de "errado".

É porque essa aproximação em si não aceita que quadrinhos on going não foram feitas para terem finais decisivos, e sim meros arcos. Esses personagens possuem incontáveis roteiristas e artistas constantemente desenhando e criando histórias para eles,

E muitas vezes eles tem carta livre para contar a "melhor história que eles tem em mente".

É algo impermanente. O arco do Brian Bendis pode ignorar VÁRIOS elementos chave do Wolverine, enquanto Morrison busca do bau um personagem da decada de 70 e explora um lado totalmente novo do Wolverine. Cada escritor, desenhista, autor, decide brincar com os personagens e tentar construir uma história interessante, e cada palavra escrita por eles conta na "continuidade", sendo re aproveita, re pensada, e remixada por novos autores, criando um universo curioso, que é ao mesmo tempo continuo, porém não é constante, afinal certos elementos podem cair em desuso entre um autor e outro.

Se estivéssemos falando de uma história de super herói com começo, meio e fim, como por exemplo, "Watchmen". Um personagem morrer e reviver seria algo inaceitável.

E como isso funciona em outras mídias?



A ideia de continuidade, e os veículos narrativos para evoca-la podem ser vistas no filme "Capitão America 2: O Soldado Invernal".

Normalmente em um filme dos estúdios marvel, fora alguns elementos pequenos como nomes, alusões e aparências especiais de outros atores, os filmes são auto contidos. Há uma "sutileza" ali que diz que eles pertencem a um universo maior. Mas na maioria das vezes tais elementos são meras alusões, presentes narrativos para quem acompanha os outros filmes.

Mas em "O Soldado Invernal", todos os elementos de continuidade tornam o filme maior. A história é um momento relativamente curto da vida de seus personagens, mas ele é engrandecido com flashbacks curtos de "Capitão America: O primeiro vingador", mas todo o cenário do filme existe por consequência das ações e incidentes de outro filme, o "Vingadores".

As conclusões e reações de todas essas evocações tornam o filme mais intenso. Não é nescessário uma longa exposição para explicar porque Nick Fury está preprando um armamento de guerra tão pesado; O filme "Vingadores" mostra o catalizador para isso. E ao mesmo tempo, saber sobre isso não impacta diretamente a história, não remove compreensão do que está ocorrendo na trama.

Basicamente, o filme consegue trazer o sentimento, a tensão, e a iconografia do Capitão America se usando de continuidade, mas feito de uma maneira ao qual ter visto os outros filmes engradece este, mas não o diminui se o forem omitidos.

E isso é bem próximo do porque a continuidade dos quadrinhos, sempre presente, nunca constante, é algo tão gostoso de ler. Tal continuidade está lá para melhorar a experiencia, não para atrapalhar.

E é preciso de mais provas de que esse detalhe do gênero de Super Heróis é algo que deve ser usado em mais mídias do que a qualidade do "O Soldado Invernal" e dos filmes "Marvel" em geral?

Quando estiver produzindo um jogo do gênero, ou preparando uma aventura de Mutantes & Malfeitores, lembre-se da continuidade.

Sempre presente, nunca constante.



Um comentário:

  1. Ótimo artigo e bem elucidativo, ainda mais pra mim, que nunca consegui acompanhar o ritmo dos arcos e da continuidade exótica das HQs de heróis. Bem interessante mesmo.

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